Carta ao amigo Jornalismo

 Prezado amigo Jornalismo,
Escrevo esta carta para dizer que sinto sua falta. Sinto falta da sua adrenalina, das noites mal dormidas que passamos juntos. Dos cafés ruins e dos erros de grafia que eu tinha que corrigir.
Sei que você ainda dá as caras na minha vida quando acontece algum fato importante ou quando leio algum bom livro. Nesses últimos  tempos lembrei de você nas manifestações, no julgamento do mensalão e até no caso do menino que matou a família lá na Brasilândia.
Você viu isso? Horrível não é?
Minha vontade era estar lá ao seu lado cobrindo todos esses fatos.
A verdade é que eu gosto mesmo é de ouvir e contar histórias, conversar com gente e não ficar sentado em uma cadeira preso em um escritório como faço todos os dias.
Sabia que tem gente que acha isso legal e fica até às nove da noite aqui? Olha só que absurdo... Até às nove da noite. Nem parece que todas essas pessoas têm família onde já se viu ficar no escritório até as nove fazendo planilhas.
Tudo bem, eu também já fiquei até às cinco da manhã com você, mas era outra ocasião e eu voltei cansado direto pra casa.
Eles nem conversam ficam todos calados olhando pra tela do computador. E quando falam usam aquele corporativês ridículo. Desconfio que se a gente perguntar pra eles quem é o presidente da Síria eles não vão saber responder. Eles chamam reuniões de pauta de reuniões de validação...  (vê se pode)
Se eu te falar que outro dia eles tentaram me ensinar a fazer um lide você acredita? Um lide...
Fiquei me perguntando se eles saberiam o que é pirâmide invertida. Não disse nada por que tive medo de eles pensarem que isso significava que as pirâmides de Gizé (aquelas do Egito sabe?) tinham virado de ponta cabeça.
Até medir uma apresentação de Power Point com uma régua de plástico (eu tive que ver isso acredite de nada valeram as aulas de diagramação)
Sei que estou cansado tem dias que parece que vou enlouquecer. Passo o dia todo “consumindo” notícias pra ver se eu ao menos  injeto um pouco de você nas minhas veias.
Espero que não demore muito mais para te encontrar.
Abraço,
De um jornalista preso no setor administrativo.    

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